JOSÉ MOTA / GLOBAL IMAGENS
A oxitocina,
conhecida como a "hormona no amor", leva as mães a colocar a vida em
risco para protegerem os filhos, conclui um estudo da Fundação Champalimaud
hoje divulgado.
O estudo,
realizado por uma equipa liderada por neurocientistas do Centro Champalimaud,
pretendeu perceber o que se passa no cérebro dos pais para estarem sempre
dispostos a sacrificar a vida para proteger os filhos.
O objetivo
foi "tentar perceber o mecanismo" deste "fenómeno que se observa
na natureza em várias espécies", uma vez que a reação imediata a uma
ameaça costuma ser fugir ou ficar quieto para tentar passar despercebido, disse
à agência Lusa a investigadora Marta Moita.
A alteração
de comportamento para proteger as crias sugere que "os pais têm que ter um
mecanismo qualquer que suprime a sua autodefesa", adiantou a coordenadora
do estudo, publicado na revista 'Elife'.
"O que
os estudos mostram é que se se puser oxitocina na amígdala (região do cérebro
relacionada com as emoções) os animais não se imobilizam perante uma
ameaça", o que não se sabia era quais os mecanismos no cérebro que
permitiam essa mudança de comportamento e quando entram em ação, disse a
neurocientista.
A
investigação realizada com ratos fêmeas que tiveram crias recentemente vieram
dar uma nova pista ao estudar o comportamento de defesa da mãe, tanto na
presença como na ausência dos filhos, e testar se o mecanismo de ação da
oxitocina na amígdala é necessário para a regulação desse comportamento.
As
experiências consistiram em condicionar as mães, sem as crias, e associar um
cheiro a mentol a um choque elétrico. Após esta aprendizagem, os animais
percebiam o cheiro como uma ameaça e ficavam quietos.
Com o estudo
ficou demonstrado que "as mães quando estão em presença das crias suprimem
o 'freezing' [resposta de ficar quieto] e, que em vez disso, têm outros
comportamentos como tentar tapar a fonte do odor que utilizámos, que era a
ameaça, tentavam esconder os filhos por baixo do material do ninho, exploravam
a caixa provavelmente para localizar a ameaça ou amamentavam e mantinham as crias
próximas de si", contou.
Contudo,
quando os cientistas bloquearam a atividade da oxitocina na amígdala das mães,
estas, independentemente da idade das crias, passaram a ficar quietas perante o
perigo, esquecendo-se do seu "dever" de proteção maternal.
Segundo a
investigadora, o estudo fornece um quadro experimental "para estudar quais
são os sinais que as crias transmitem à mãe e que levam, em caso de perigo, à
libertação de oxitocina" na amígdala da mãe, desencadeando a estratégia de
defesa da descendência.
"Sabemos
que a comunicação química é muito importante, mas ainda não sabemos quais são
os estímulos sensoriais que ativam a oxitocina", acrescentou.
Questionada
pela Lusa sobre se os humanos podem ter mecanismos semelhantes, Marta Moita
disse que provavelmente sim.
"Não
sabemos, mas é provável porque os elementos" para que isso aconteça estão
lá todos, "falta testar".
Fonte: http://www.dn.pt
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