
Advogados de Lula, jornalistas e jornal Folha de S. Paulo
apontam inconsistências no depoimento feito por Palocci em busca de perdão
judicial
Antonio Palocci, preso, prestou depoimento para o juiz de
primeira instância Sérgio Moro há 12 dias, buscando obter uma redução penal, um
acordo de delação, sem compromisso com a verdade. Palocci trocou seus advogados
originais de defesa por Adriano Bretas, advogado especializado em delações, que
acertou com a Lava Jato a negociação de Alberto Youssef e Delcídio do Amaral,
ambos atualmente soltos. Assim como a delação de Delcídio, que fez muito
barulho, mas que não tem se comprovado verdadeira, a cada dia só ficam mais
explícitas as mentiras, contradições e total falta de provas do depoimento do
ex-ministro.
Durante a audiência, Moro disse que não era papel da defesa
de Lula ficar confrontando o que Palocci dizia com outros depoimentos que
contradiziam com a sua versão. No dia seguinte ao depoimento, o advogado do
ex-presidente Lula, Cristiano Zanin Martins, apontou o depoimento de Palocci
sobre um encontro entre Lula e Emílio Odebrecht, no qual Palocci admite que não
estava presente. Enquanto Palocci disse que se discutiu no encontro um
"pacote de propinas" em um "pacto de sangue" no valor de
300 milhões, Emílio já tinha afirmando antes em duas ocasiões, em sua delação
premiada e em depoimento como testemunha – com o compromisso de dizer a verdade
– que jamais discutiu valores com o ex-presidente Lula.
As muitas contradições de Palocci levaram a Rede Globo a
tentar, no dia seguinte do seu depoimento em longa matéria do Jornal Nacional,
"harmonizar" a sua fala com a de Marcelo Odebrecht, que aliás,
segundo a Folha de S. Paulo, não só conversaram um com o outro no cárcere em
Curitiba, como Odebrecht aconselhou Palocci a fazer delação. Os 300 milhões que
no depoimento de Marcelo eram um valor a ser colocado em campanhas do PT e até
2010 se transformaram, na versão de Palocci, em recursos para quando Lula
saísse do governo. Marcelo diz claramente não ter discutido isso com Lula, mas
que pediu ao seu pai para levar isso ao então presidente. E, de novo, Emílio
confirma que o filho pediu, mas que ele não discutiu isso com Lula.
O texto "Quanto vale a delação de Palocci?", de
Ricardo Amaral, aponta, além das citadas, outras contradições na fala do
ex-ministro da Fazenda:
"3) Lula não
pediu nem recebeu 'pacote de propinas'
da Odebrecht no final de seu governo, que incluiria um prédio para o Instituto
Lula. Marcelo Odebrecht afirmou que o imóvel foi comprado pela empresa DAG, mas
nem ele nem o pai nem qualquer dos outros 75 delatores da empresa disse que o
imóvel seria doado ao Instituto. Marcelo e Demerval Gusmão, dono da DAG,
afirmaram que, se o terreno viesse a ser usado pelo Instituto Lula, seria
alugado ou comprado por um grupo de empresas.
4) A denúncia do
MPF contra Lula sobre este imóvel não procede nem deveria estar sob a
jurisdição de Sérgio Moro. Marcelo Odebrecht afirmou em depoimento que a
aquisição do imóvel não teve qualquer relação com os contratos da Odebrecht com
a Petrobrás, que é o foco das investigações da Lava Jato.
5) Não foi
Palocci quem convenceu Lula e os diretores do Instituto a recusar o terreno,
numa suposta reunião em fins de 2011. O imóvel foi descartado pelo próprio
Lula, por ser inadequado, após uma visita de avaliação em julho daquele ano. Em
fins de 2011, Lula estava sob intensa quimioterapia para tratamento de câncer,
afastado de qualquer atividade.
6) A Odebrecht
não pagou propina de R$ 4 milhões ao Instituto Lula. As doações de diversas
empresas e pessoas físicas ao Instituto, inclusive a Odebrecht, foram
registradas, contabilizadas e informadas à Receita Federal, dentro da lei.
Ninguém, exceto Antonio Palocci, jamais se referiu a essas doações como suposta
e inexistente “propina”, expressão que passou a ser utilizada por delatores
premiados e procuradores levianos para criminalizar qualquer movimentação
financeira envolvendo seus alvos políticos.
7) As palestras
de Lula, mais de 70 para mais de 40 empresas e entidades empresariais do Brasil
e do exterior, entre 2011 e 2015, foram registradas, contabilizadas e
informadas no Imposto de Renda. Nenhum delator ou testemunha referiu-se a elas
como suposta e inexistente 'propina'."
O advogado de Lula, em vídeo, mostra como as falas de
Palocci confrontam diretamente com aquilo que Marcelo Odebrecht e Emílio
Odebrecht falaram. E que o próprio Palocci cai em contradição quando fala de
datas e reuniões.
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