Além do 'coronavoucher', mudança de percepção sobre os culpados pela crise e normalização do impacto do vírus também ajudaram a popularidade do presidente
Mesmo com piora da covid-19 no país, avaliação positiva do presidente fica no mesmo nível de agosto, com 37% de ótimo ou bom, enquanto rejeição cai de 34% para 32%, segundo pesquisa Datafolha.
Apesar do agravamento da epidemia de covid-19 no país e das críticas à sua gestão da crise, o presidente Jair Bolsonaro manteve sua aprovação no melhor nível desde o início do mandato, segundo apontou uma pesquisa do instituto Datafolha divulgada neste domingo (13/12).
O levantamento mostrou que 37% dos brasileiros consideram seu governo bom ou ótimo, o mesmo percentual da pesquisa realizada em agosto. Em junho, eram 32%.
Já a rejeição do presidente caiu de 34% em agosto para 32% agora, enquanto há seis meses 44% dos entrevistados classificaram o governo como ruim ou péssimo. Além disso, 29% avaliam Bolsonaro como regular – eram 27% em agosto e 23% em junho.
A pesquisa ouviu 2.016 pessoas por telefone nos dias 8 e 10 de dezembro em todo o país. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
Apesar de sua aprovação seguir estável em seu melhor nível, Bolsonaro é o segundo presidente com a pior avaliação desde a redemocratização de 1985, quando considerados os eleitos pelas urnas e que cumprem seu primeiro mandato.
Ele só ganha de Fernando Collor (1990-1992), que era rejeitado por 48% do eleitorado e aprovado por apenas 15% na mesma altura do mandato, em fevereiro de 1992.
As avaliações dos antecessores de Bolsonaro no mesmo momento de seus primeiros governos eram bem superiores: Fernando Henrique Cardoso tinha 45% de aprovação, Luiz Inácio Lula da Silva, 47%, e Dilma Rousseff tinha 62%.
Segundo a pesquisa Datafolha deste domingo, a aprovação do presidente é particularmente alta entre homens, empresários, moradores das regiões Norte e Centro-Oeste, assalariados sem registro e pessoas que ganham de cinco a dez salários mínimos.
Já a reprovação é mais forte entre estudantes, quem tem ensino superior, quem ganha mais de dez salários mínimos, quem vive em regiões metropolitanas e entre pretos.
Além disso, mais da metade dos participantes da pesquisa acredita que Bolsonaro fez menos pelo país do que o esperado: essa parcela representa 55%, enquanto 17% acham que ele fez mais do que o esperado, e 21% opinam que ele fez o esperado.
Em relação a temas que preocupam os brasileiros, a saúde ficou em primeiro lugar entre os assuntos citados espontaneamente, atingindo 27% dos entrevistados. Outros problemas mencionados foram desemprego (13%), economia (8%) e corrupção (7%).
Paradoxalmente, a estabilidade na forma como a população vê o governo Bolsonaro – e a mudança substancial ocorrida entre junho e agosto – ocorre num momento em que o país vive uma grave crise sanitária e econômica.
O Brasil superou a marca de 180 mil mortos pela covid-19 e já se aproxima de 7 milhões de infectados, na mesma semana em que o presidente declarou que o país vive "um finalzinho de pandemia", mesmo com os números mostrando o contrário.
Além do agravamento da epidemia, a aprovação também ocorre enquanto o governo Bolsonaro fica para trás na corrida das vacinas e trava uma disputa com o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), sobre o protagonismo da imunização no país. O presidente e seu Ministério da Saúde também vinham sendo alvo de críticas intensas por não apresentarem um plano nacional de vacinação.
A popularidade coincide, porém, com a continuidade da distribuição do auxílio emergencial para trabalhadores afetados pela crise, que foi de R$ 600 mensais e agora está em R$ 300 – e que acabará no fim deste ano, enquanto o governo avalia formas de manter algum tipo de ajuda.
O governo federal, que inicialmente havia proposto o valor de R$ 200 e concordou em triplicar a quantia após votação na Câmara dos Deputados, hoje celebra o resultado do auxílio, que aumentou a aprovação do presidente até mesmo em antigos redutos do PT, como o Nordeste.
A estabilidade na aprovação também coincide com certa moderação de Bolsonaro em alguns temas, como sua relação com o Legislativo e o Judiciário. No primeiro semestre, ele chegou a participar de atos contra o Supremo Tribunal Federal (STF) e pelo fechamento do Congresso.
Em meados do ano, ele se aproximou dos partidos do chamado "Centrão" e moderou suas posições em relação ao STF, em especial depois da prisão de seu amigo Fabrício Queiroz. O "ex-faz-tudo" da família Bolsonaro foi preso em 18 de junho, pouco antes de uma pesquisa Datafolha.
Ainda assim, o levantamento de seis meses atrás não marcou o fundo do poço para Bolsonaro, apesar de a imagem do governo ter sofrido com a prisão. A pior avaliação do presidente continua sendo a de agosto de 2019, em meio à crise das queimadas e o derretimento da imagem do Brasil no exterior, quando apenas 29% consideraram seu governo bom ou ótimo.
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