Tudo começou num texto satírico. Terminou divulgado em jornais como sendo propaganda russa

Numa época em que as "fake news" (notícias falsas) estão na ordem do dia, devido à capacidade de produção que qualquer pessoa tem e o nível de propagação que a informação pode ter nas redes sociais, analisar um exemplo concreto é importante para perceber como tudo, pelo menos no caso apresentado, se processa.

A 12 de abril de 2014, num acontecimento que até levou o Pentágono a lançar um comunicado, o encontro entre um avião de guerra russo e um navio de guerra norte-americano no Mar Negro fez correr alguma tinta. E tal como acontece em muitas notícias falsas, o que se segue parte de alguma verdade que depois foi destorcida.

Três anos depois, a história reapareceu, completamente modificada, num programa da televisão russa. Daí, chegou a jornais ingleses e até à Fox News. A nova versão era que o avião teria uma "arma eletrónica" que poderia desligar todos os sistemas do Donald Cook, o navio norte-americano.

Tudo começou no Facebook

E como é que tudo se desenrolou? Primeiro, nos dias a seguir ao incidente no Mar Negro, um escritor russo, Dmitri Sedov, escreveu um artigo de opinião, com tons de sátira, em que imaginava o incidente como sendo um ataque eletrónico e descrevendo o suposto pânico de um dos membros da tripulação, explica o The New York Times.

Era então uma suposta carta de John, um norte-americano, para Mary, a sua amada.

Televisão russa

Depois de muito partilhada no Facebook, de modo a criar tráfego para o artigo original, o texto chegou à televisão russa. A 15 de abril de 2017, o programa "Vesti", disse que, em 2014, o avião russo usou a suposta arma eletrónica para "desativar todos os sistemas" do Donald Cook. A fonte principal? A publicação (ficcional) de John.

O "Vesti" citou ainda declarações de um antigo comandante dos EUA na Europa, dizendo que a arma usada poderia paralisar mísseis, aviões e navios norte-americanos (o Pentágono disse então que Frank Gorenc, a pessoa citada, nunca tinha dito nada nesse sentido).

História chega aos jornais ingleses...

Pegando na história que passou na televisão russa, dois jornais britânicos, o The Sun e o The Daily Star, publicaram, a 19 de abril, notícias sobre a suposta "bomba eletrónica" que pararia os norte-americanos.

O The Sun, porém, chamou à situação "propaganda bizarra" e citou o Pentágono a negar as declarações de Frank Gorenc.

Mais tarde, o The Daily Express também pegou na "notícia", sugerindo que a III Guerra Mundial podia estar a chegar.

...E à Fox News

A Fox News, o canal de televisão preferido do presidente Trump, pegou na versão do The Sun e contou a história, referindo novamente ser um exemplo de propaganda russa. Refet Kaplan, editor da FoxNews.com, disse que a história era considerada como sendo mais um exemplo das "hipérboles dos media russos".

"Russia diz que pode destruir a Marinha dos EUA como uma 'bomba eletrónica", lia-se no título da Fox News, que entretanto apagou a notícia do seu site.

Daqui a história foi amplamente partilhada e divulgada nas redes sociais e em sites especializados em temas anti-americanos, anti-globalização e ainda em sites de teorias da conspiração.


Pelo menos desta vez, conseguimos saber como uma paródia se transformou numa "notícia" que chegou a meios de comunicação lidos em todo o planeta.
Fonte: http://www.dn.pt/mundo

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