Um pastor pentecostal foi preso na última quarta-feira, 16 de janeiro, sob acusação de tortura contra dependentes químicos que tinham recorrido ao abrigo que ele mantinha para se tratarem contra o vício em drogas.

A prisão do pastor foi autorizada pela Justiça após a Polícia Civil de Pernambuco colher depoimentos de 12 pessoas, sendo nove mulheres e três crianças, que relataram agressões sofridas.

“Esse homem é um psicopata, é um monstro. Ele batia na gente e só sossegava quando via sangue escorrendo”, disse uma das jovens, em entrevista ao telejornal NE1, da TV Globo no Pernambuco, referindo-se ao pastor Edy de Jesus.

A Chácara Jovem Resgate, que abrigava o projeto social conduzido por Edy de Jesus em Cabo de Santo Agostinho, na Grande Recife, recebia diversos jovens para tratamento de dependência química. Nesse contexto, o pastor teria praticado violência física e psicológica contra os internos.

“Eu passei noites de terror lá. Estou muito assustada com essa situação. O que ele fazia com a gente, não se faz nem com um bicho. Ele é muito agressivo. ‘Dava’ de mangueira, de barrote. Ele já agrediu até meus dois filhos, um de 5 e um de 3 [anos]”, afirma uma jovem, de 22 anos.

A irmã dela, de 20 anos, também passou pela unidade de tratamento, e relatou ter ficado sem comer e ter sido obrigada a dormir em um quarto sem luz e com cobras: “Lá era um tratamento, mas nem parecia. A gente deveria ser tratada e não maltratada. Eu era uma das vítimas que ia para o quatro das cobras. Eu já passei dois dias lá sem comer e sem lâmpada. Ele batia na minha cara, eu fui algemada e tudo”, disse.

No relato à Polícia, as mulheres contaram que recebiam ameaças para não falar sobre o que acontecia no local, e nas vezes que desafiaram o pastor, foram agredidas e tiveram as visitas e ligações suspensas. “Quando nossa família chegava, a gente não tinha nem oportunidade [de contar o que acontecia], porque ele ameaçava que se a gente falasse, a gente ia pagar quando nossa família saísse”, disse uma das vítimas.

A mãe das duas jovens que aceitaram conversar com a emissora de TV disse que as filhas estão traumatizadas e agora a família espera por justiça: “Na frente da gente, ele demonstrava ser uma ótima pessoa. Mas tudo é uma farsa. Ele não é pastor, é um impostor. Já chorei muito, pedi muito perdão a Deus, porque eu botei minhas filhas lá para se tratarem, se recuperarem e saírem bem. Não para serem maltratadas e espancadas”, disse.

A Polícia Civil de Pernambuco informou que as investigações tiveram início a partir de informações repassadas pelo Conselho Tutelar do município, na última segunda-feira, 14 de janeiro.

Antes da prisão, o pastor deu declarações à reportagem da Globo, alegando que o trabalho na chácara é ligado ao Ministério Pentecostal e que o tratamento se dava apenas “com orientação espiritual”,e negou qualquer tipo de ameça ou maus-tratos. À delegada Natasha Dolci, o pastor admitiu que criava duas cobras, mas negou que as usasse para torturar os internos, e que o único castigo adotado dentro da casa era a hora de se recolher.
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