Isso representa que uma em cada dez crianças de 5 a 7 anos foi explorada dessa forma em todo o mundo

Trabalho infantil: os ramos que mais exploram mão de obra infantil são agricultura, serviços e indústrias
Estudo da Organização Internacional do Trabalho (OIT)
lançado hoje (19), na Assembleia das Nações Unidas, estima que 152 milhões de
crianças foram submetidas a trabalho infantil em 2016, sendo 64 milhões do
gênero feminino e 88 milhões do masculino.
Isso representa que uma em cada dez crianças de 5 a 7 anos
foi explorada dessa forma em todo o mundo.
Cerca de 73 milhões, quase metade do total, exerciam o que a
OIT considera trabalho perigoso, que são atividades que colocam em risco sua
saúde, segurança e desenvolvimento moral, como ocorre na mineração e na
construção civil.
Entre estas pessoas, 38% das que têm de 5 a 14 anos e quase
dois terços das que têm de 15 a 17 anos trabalham mais de 43 horas por semana.
Coordenador do programa de combate ao trabalho forçado da
OIT no Brasil, Antonio Carlos Mello explica que os números devem ser ainda
maiores, já que, por envolver atividades tipificadas como crimes em diversos
países, é difícil obter dados exatos.
“É um piso mínimo, pois toda pesquisa estatística, para ser
fidedigna, tem que ser conservadora”, acrescenta.
A pesquisa Estimativas Globais de Trabalho Infantil:
resultados e tendências 2012-2016 aponta que o maior contingente de crianças
exploradas está na África (72,1 milhões), depois na área da Ásia e do Pacífico
(62 milhões), das Américas (10,7 milhões), da Europa e da Ásia Central (5,5
milhões) e dos Estados Árabes (1,2 milhões).
Os ramos que mais exploram mão de obra infantil em âmbito
global são agricultura (70,9% dos casos), serviços (17,1%) e indústrias em
geral (11,9%).
No caso das Américas, esses percentuais alcançam 51,5% na
agricultura, 35,3% nos serviços e 13,2% nas indústrias.
O setor de serviços ocupa, portanto, fatia maior do que
ocorre nos países em geral, chegando a utilizar proporcionalmente mais de uma
em cada três crianças que trabalham.
Embora a OIT reconheça o avanço no combate a esse tipo de
violação na região, destaca que ele “não foi compartilhado igualmente entre
países ou dentro deles; grupos significativos, incluindo crianças indígenas,
foram deixados para trás”, conforme o texto da pesquisa.
A análise considera ainda o número total de crianças no
emprego, que são aquelas submetidas às formas de exploração do trabalho
infantil, somadas às que têm as modalidades permitidas de emprego infantil.
O total chega a 218 milhões de pessoas. A organização alerta
para um dos impactos mais evidentes desse emprego, que é o afastamento das
crianças do ambiente escolar.
Aproximadamente um terço das crianças de 5 a 14 anos
envolvidas em trabalho infantil estão fora das escolas. Já os jovens de 15 a 17
anos têm maior propensão a abandonar a escola prematuramente.
Trabalho escravo
Também durante a Assembleia da ONU, em Nova Iorque, foram
apresentados novos dados sobre trabalho escravo.
Segundo a OIT, em 2016, mais de 40 milhões de pessoas foram
vítimas da escravidão moderna. Destas, 25 milhões foram submetidas a trabalho
forçado e 15 milhões foram forçadas a se casar. Uma em cada quatro vítimas é
criança.
Os números foram revelados pela pesquisa Estimativas Globais
da Escravidão Moderna: trabalho forçado e casamento forçado, da OIT, em
parceria com a Fundação Walk Free, organização internacional de direitos
humanos, com o apoio da Organização Internacional para Migração (OIM).
O estudo mostra que meninas e mulheres são os principais
alvos da escravidão moderna, chegando a quase 29 milhões, o que representa 71%
do total.
Na indústria do sexo, mulheres representam 99% da mão de
obra explorada. Também são as mulheres as submetidas majoritariamente a
casamentos obrigatórios, que foram contabilizados nessa pesquisa por envolverem
relações de submissão.
Neste caso, o percentual chega a 84%. De acordo com a OIT,
mais de um terço de todas essas vítimas eram crianças no momento em que se
casaram e quase todas eram meninas.
Considerando apenas os números relativos a trabalho forçado,
houve um aumento de mais de 20% entre 2012, quando o total era de 20,9 milhões
de pessoas, e 2016, com 25 milhões de trabalhadores nessa situação.
Para o coordenador do programa de combate ao trabalho
forçado da OIT no Brasil, essa situação só vai mudar quando forem atacados os
fatores estruturantes da escravidão, como a concentração de renda.
Por isso, ele manifesta preocupação com a situação atual,
“especificamente em relação ao Brasil, devido à crise econômica, aos cortes de
recursos e todo um processo de fragilização da luta contra o trabalho escravo e
de políticas de combate à miséria e à pobreza, que são os fatores estruturais
da escravidão”.
Em julho, após sofrer um contingenciamento linear de 43% do
seu orçamento, o Ministério do Trabalho garantiu que as operações para o
combate ao trabalho escravo e ao trabalho infantil terão os recursos garantidos
e serão mantidas sem cortes nos próximos meses.
Em âmbito internacional, outros problemas podem vir a
agravar a situação diagnosticada pela OIT, a exemplo das guerras que têm
provocado intensas migrações.
“Há, hoje, uma fuga em massa de determinados países, que
consiste em uma migração perversa, porque é movida pela pura necessidade de não
ficar em seu lugar de origem. A pessoa que migra nessas condições vai aceitar
qualquer proposta de trabalho e vai se submeter a qualquer situação, porque
qualquer uma é melhor do que ameaça de morte”, lamenta Antonio Carlos Mello.
exame.abril.com.br
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